Ir para o conteúdo
acessibilidade


access
Página de Acessibilidade

POLO CULTURAL

Saiba como Penápolis se tornou polo cultural da noroeste paulista

A Princesa da Noroeste é uma típica cidade do interior, cujas peculiaridades a fazem diferente de qualquer lugar do mundo. A sua herança cultural, seus museus, o santuário de São Francisco, a Vinícola e a qualidade de vida são fatores que fazem de Penápolis uma cidade inesquecível e cativante. Como diz o velho ditado: quem prova das águas de Maria Chica sempre retorna. Com 710.40 km quadrados, Penápolis está localizada na região noroeste paulista, há 485 km da capital. Segundo estimativa do IBGE em 2020, sua população era de 63.757 habitantes.

Índios, trens e fundadores
Antes da fundação, feita pelos capuchinhos em 25 de outubro de 1908, aconteceram três tentativas de ocupação da região de Penápolis. O primeiro movimento foi em 1767 No segundo movimento, mineiros de Descalvado e Pirassununga vieram ocupar as terras devolutas dos campos e florestas da região. O terceiro movimento ocorreu em 1903, quando se deu a construção da estrada de ferro que liga São Paulo a Cuiabá (1905 a 1914). A chegada da companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em 1907, dinamizou a vida econômica da região. Houve, porém, uma intensa lufa entre os que chegavam com a construção da estrada de ferro e os que cá estavam, ou seja, os índios caingangs.
Eles foram praticamente eliminados desse que era último refúgio deles no Estado de São Paulo. Os poucos que restaram vivos foram levados, em 1914, para o reserva indígena, hoje conhecida como Icatu, no vizinho município de Braúna.

Ferros e flechas
Desde o início da construção da ferrovia Noroeste do Brasil, que mobilizou famílias de imigrantes, que tinham o sonho de tornarem-se proprietários de terras e enriquecer. Penápolis sempre atraiu agricultores dos quatro cantos do Brasil. Isso porque as nossas terras eram propícias para a plantação de café. Apesar de a região Noroeste sentir a crise de 1929 apenas 10 anos depois, os agricultores daqui viram-se obrigados a trocar a nossa monocultura. Quando a crise chegou por aqui, os donos das fazendas e das terras começaram a arrancar os pés de café e o substituí-los pela criação de gado leiteiro e de corte e começaram os primeiros plantios de cana-de-açúcar que foi o principal produto de nossa economia até dias não muito distantes. Em 1946 foi inaugurado em Penápolis a Usina Campestre, a primeira usina de açúcar da região Noroeste do Estado de São Paulo, determinante para a expansão do plantio da cana-de-açúcar em Penápolis e região.

 

Fama cultural
Penápolis foi por vários anos polo cultural do interior paulista. Isso porque, há alguns anos, a cidade realmente respirava cultura. Marcante foram os movimentos culturais que aqui aconteciam pelas épocas de 1960, 70, 80 e até 90, quando a cidade abrigava um ponto do Itaú Cultural.
 

Os movimentos mais importantes dessa época foram:

Teatro Amador dos Estudantes
Em 1964 a professora de Português, Maria Tereza Alves Viana, começou, para atender ao currículo escolar, o se reunir com alunos para a montagem de uma peça teatral no antigo Instituto de Educação, hoje o Carlos Sampaio Filho, e também na escola Yone Dias de Aguiar. O texto escolhido foi a comédia “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. Depois da montagem da peça (que fez grande sucesso), a ideia da criação do Grupo de Teatro amadureceu, sendo decorrência natural e inevitável. Criou-se assim o TAE (Teatro Amador dos Estudantes), Maria Tereza aprofundou seus conhecimentos fazendo cursos de arte dramática com Sandro Poloni, Maria Della Costa e Emílio Fontana, montando, logo após, uma série de peças de alto nível e diversificados gêneros, partindo de simples comédias e chegando até o teatro absurdo "A Raposa e os Uvas”; "As mãos de Eurídice", "O Santo Milagroso", "Esta noite choveu prata", "O Chapeuzinho Vermelho", "O Cavalinho Azul", "Liberdade, Liberdade", "Morte e Vida Severina", "Toda donzela tem o pai que é uma fera", "Quarto de Empregada", "O Patinho Feio", "A Ratoeira" e "O Mestre", peças que receberam vários prêmios. Segundo a professora, irmã e participante do movimento, Ruth Viana, na década de 1960, época de profunda ebulição social e mudanças políticas no país, Maria Tereza soube conduzir e isentar o TAE de atitudes e envolvimentos festivos, além de promovê-lo regionalmente. "Maria Tereza angariou as simpatias do poder público, que, reconhecendo a sua seriedade de conduta aliada ao seu dinamismo realizador, doou no ano de 1970, um prédio próprio para o TAE que passou a chamar-se Teatro Municipal Maria Tereza Alves Viana", afirmou Ruth. Flávio Valente, Luis Monteiro (o Chicó), Vilce Bezerra, Alair Negri, José Waldemarin, Ênio e José Maurício Soliani, Célia Muçouçah, Adauto Moreira, Valdir Serra, Jânio José Raymundo, Maurílio Machi, Ivan Padial, Eneas Noronha, Paulo Milreu, Jackson leal, Chiquinho e Lu Costa, Alcides Neto, Sérgio Mogna, Euclides Marques, Alda Rossi, Fábio Coimbra e Maria do Carmo Viana foram alguns dos envolvidos nessa grande empreitada artística. Foram vários prêmios para peças e atores: Melhor Espetáculo (adulto) do XV Festival Estadual de Teatro Amador do SESC, Melhor Espetáculo (infantil) do I Festival Estadual de Teatro Amador de Araçatuba, prêmio "Governador do Estado", além de revelar atores e atrizes (principais e coadjuvantes) que conquista­ram várias premiações e notoriedade. Com pouco incentivo, apesar da insistência de alguns integrantes, o TAE foi desaparecendo gradativamente, tendo suas atividades encerradas na década de 90.

Salões de artes
Um movimento desencadeador de várias tendências culturais da cidade foi a organização dos salões de arte, iniciados em 1972. Por decorrência da vinda do empresário e músico Celso Egreja para cuidar da Usina Campestre, em 1972, ele juntamente com professores da Funepe (Carlos Stroppa e Caciporé Torres) realizaram nas dependências da instituição o primeiro Salão de Artes Plásticas da Noroeste, acontecido em 1974. Com um vasto conhecimento cultural e vários amigos com quem trabalhara durante a vida, Celso conseguiu reunir mais de cem artistas de todo o Brasil, entre pintores, fotógrafos, tapeceiros, escultores e músicos para compor o Salão. O nosso Museu do Sol nasceu de doações desses artistas e foi por anos subsidiado pelo próprio empresário. E Celso Egreja não parou por aí. Ainda fez com que a cidade tivesse um carnaval de rua digno de grandes centros, que, na época só era visto no eixo São Paulo-Rio.

Carnaval de rua
O final dos anos 70 e início dos 80 foi marcado pela passagem do "Unidos da Usina Campestre", escola de samba que brilhou até o final da década e trouxe pompa, glamour e ar de requinte ao nosso carnaval de rua. Segundo Jânio José Raymundo, comerciante e coordenador do carnaval na época, na Avenida Luis Osório (da Rua Altino Vaz de Mello até a Luis Chrisóstomo de Oliveira) várias escolas de samba disputavam o primeiro lugar do Carnaval (Lá Vem Mangueira, Pena Verde, Caia na Gandaia entre outras), mas o grand finalle era sempre com o escola presidida por Celso Egreja.

Itaú Cultural
Com início em 1983, o Itaú Galeria garantiu a continuidade das ebulições culturais, que nessa década já se encontravam na cidade. Foram vernissages regadas a muita arfe e vinho branco, além de manter oficinas de dança e teatro, promover exposições, workshops e palestras sobre vários segmentos culturais. Segundo a coorde­nadora da extinta galeria, Célia Muçouçah. o Itaú Cultural proporcionou para a cidade e região um crescimento cultural imenso "Aconteciam aqui exposições de obras de grandes museus do Brasil, oficinas de balé, workshops de artes visuais, grafite e palestras com críticos de arte renomados. O Urbano Acústico foi uma ideia do Itaú Galeria de Penápolis que mobilizava os músicos da região, trazendo para cá nomes importantes da música brasileira para apresentações e oficinas com o público. Foi um investimento pesado em formação artística", lembrou. Bandas como Karnak, Fábrica da Arfe, o trombonista Bocato e o violeiro Paulo Freire foram algumas atrações. Com cerca de dois shows por mês, o projeto Urbano Acústico tinha na direção musical o músico José Renato Gimenes das Neves, o Zé Renato, de Araçatuba. A Galeria Itaú Cultural teve suas atividades encerradas em 21 de dezembro de 2001, mesmo sob os apelos da comunidade para o não fechamento, em abaixo-assinados.